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quinta-feira, janeiro 24, 2013

Metade



Enquanto todos reparavam em curvas que nunca notei, você se concentrava em meu sorriso. Aquele sorriso torto, aberto, repleto de dentes. Sorriso que nunca parecia com boa vontade longe de você. Disseram que sou velha, egoísta, com falta de amor próprio. Você enxergava uma menina cheia de ideias mal formuladas, infantil quando se tratava de algodão doce e que definitivamente não sabia agradecer presentes com palavras. Ah, sim ganhei muitos presentes, mas de você vieram rosas, prosa e poesia. Questionei-me sobre culturas, vontades, desejos e você carregou consigo minhas lágrimas e meus medos. Eu quis descansar da loucura, repousar além da intensidade. Descobri em você a calmaria e a mansidão. Conheci o desejo, descobri sensações. Senti amor, paixão, tesão. Entendi, nunca busquei paz, procurei o encaixe  do meu corpo noutro corpo. O encontro de almas. Busquei a intensidade verdadeira, que vira tudo pelo avesso. Que te revira inteiro. Que te morde, te rasga, resgata, afaga, sufoca, encanta, enlouquece. Que engrandece. E em um momento de repente você não estava ali, estava em outro planeta, galáxia. Inatingível. Inacessível. Se senti desejo de morrer, e morri dez vezes. Todas as noites. E em vez de crescer, diminuí.


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