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quinta-feira, novembro 17, 2011

Vinho.

Para ocupar o tempo vago sugeri à Monica e Lívia de irmos ao cinema. Entretanto Mônica preferia tomar sorvete e jogar cartas em seu apartamento. Entre uma conversa e outra abrimos um Lídio Carraro e dividimos dois charutos enquanto Lívia nos contava seu último desencontro com um americano exilado no país, Antony. Lívia a primeira vista era ingênua e doce, mas, por trás dos olhos claros o fogo a consumia quando relatava os detalhes mais sórdidos de conversas diárias ao telefone com Antony. Sinceramente se não a conhecesse tão bem diria que era uma vadia depravada. E bem, ela era mesmo. Algumas horas se passaram quando me perdi nos ponteiros do relógio na parede, Quando voltei ao mundo real me encontrei observando o beijo e as caricias entre as duas garotas. Aquilo não me incomodava, mas, já passava da hora de acabar.
Na verdade havia poucas coisas em minha vida que realmente me agradavam, com o tempo meu comportamento vinha revelar certas preferencias. A rotina diária me fazia forte e outras vezes eu me tornava apenas um alvo fácil. Da noite anterior fragmentos de lembranças persistiram em atormentar o que restava da minha dignidade, lembranças fundidas ao gosto do vinho...  Ainda assim gostava de agrada-lo.

-Vinho? Sussurrei próxima de seus lábios, me afastando de seu abraço.
-E cigarros.
-É um pedido?  Brinquei.
-Considere uma gratificação pelo meu desempenho. E me agradeça por não cobrar. –Seu tom era sério, raramente consigo identificar uma brincadeira vinda dele. Mas já tinha me acostumado com seu mau humor crônico.
-Meu corpo está dolorido. Mencionei inocente, enquanto pegava duas taças.
-Imagino. Você tem andado insaciável. Pergunto-me o que anda aprontando, pequena.
Sorri em sua direção. Ele sabia que nunca lhe diria uma única verdade. Nunca disse.

Recuperando minha sanidade o som dos beijos entra Lívia e Mônica estava-me enojando achei melhor ir embora antes que anoitecesse. 
A noite iria encontra-lo novamente.


terça-feira, novembro 15, 2011

Beatriz

-Não entendo. Porque iremos embora mamãe?
Sônia olhou aqueles olhos tristes pensando no que dizer para justificar os últimos acontecimentos na vida da filha, mas, a pequena não tinha mais que oito anos. Era jovem demais para entender o mundo complicado dos adultos.
Então, levantando suavemente o rosto de Beatriz em sua direção, sorriu, dando inicio a uma nova explicação:
-Ah meu amor, nós iremos para outra cidade conhecer novas pessoas, ter uma nova casa... 
Você não quer fazer novos amiguinhos?
Aqueles olhos duvidosos pareciam não acreditar no que lhe era dito, sempre desconfiados.
-Gosto dos meus amigos e da nossa casa. Não precisamos de coisas novas.
-Bem querida isso não é uma escolha.  Pense que você fará novos amigos, terá uma nova escola. Tudo novo!
-E porque deixaremos o papai, quem vai cozinhar e deixar tudo limpinho? Questionou.
-Não se preocupe querida – Sônia respondeu em tom amargurado- 
o papai tem uma nova amiga que vai ajuda-lo.
  

E foi assim que a primeira mulher da minha vida apareceu. 
Ela perdeu a graciosidade com os anos. No geral, parecia uma criança grande que enxergava duendes em todo o canto. Beatriz e eu crescemos juntos. Ela tornou-se mais que amiga, ela era uma irmã. Falávamos sobre tudo: mulheres, homens, filmes, sonhos e objetivos. Bons tempos. Naquela época eu conseguia sonhar.


Alguns anos se passaram... Beatriz fez novos amigos, mas, não gostou da nova casa.
Ela cresceu e aos quatorze anos já sabia o suficiente sobre a traição do pai e que sua nova amiga fazia muito além de cozinhar e limpar a casa: ela fazia o serviço completo cama, mesa e banho. Isso a abalava mais quando estava próximo a algum feriado. Apesar de tudo, era seu pai. 
Talvez isso a envergonhasse mais do que a decepcionasse.
É a única coisa que até hoje não conseguir definir vergonha ou decepção.
Beatriz era transparente e quando pensava nisso, profundamente, seu rosto se contorcia como se fosse vomitar a qualquer instante. E ainda sim, sorria.
O que lhe faltava em beleza era compensado em carisma. Ela possuía olhos escuros e profundos que brilhavam a cada sorriso, o que facilmente fazia lembrar o mar durante a noite. Seu sorriso gigantesco era o convite para um bom dia. Nunca a vi chorar, mas, se isso acontecesse eu estaria ali para ela.
Sempre.




"Ela compartilhava comigo sua ingenuidade e eu cuidava para que isso nunca terminasse."

segunda-feira, novembro 14, 2011

Mentira



-Tem medo de mim? Ele perguntou sorrindo em seguida.
-Isso te faria feliz? E dei de ombros.
-Não. Foi apenas um palpite.
O que ele queria dizer... Eu não queria pensar nisso, acho. 
Bebemos um café, fumei um cigarro. Por algum tempo fizemos silêncio. Fiquei interessada em saber se algo era capaz de arrefecer sua lascívia... 
Mesmo assim agi cautelosamente. 
Não posso saber o que ele pensava, entretanto seu olhar parecia gostar do que via....





"Todo medo esconde um desejo"

Momento.



E lá estava ele, parado à minha frente. Fodidamente sedutor.


-O que leva uma pessoa a ficar com você? Perguntei irônica.
-Hum, isso eu não sei- olhou para céu o como se refletisse profundamente a questão- Mas, acho que os papéis estão invertidos. A pergunta certa seria (em um gesto rápido me puxou para perto de si e sussurrou em meu ouvido):
- O que te leva a ficar comigo... sempre? 


Fiquei imobilizada por sua voz ecoando em minha cabeça.  Eu estava longe o suficiente de seus lábios, entretanto, perto o bastante para sentir sua respiração quente junto a minha nuca, enquanto suas mãos brincavam com meus dedos... E percorriam suavemente minhas mãos... braços.. cintura...costas... Foi como se me descobrisse nua em sua presença. Por um instante foi como se não houvessem roupas, pudor, constrangimento. Não havia certo ou errado. Apenas nós.
Era um momento daqueles que a gente não se arrepende. Se solta, se entrega, se esquece. 


Me virei para encontrar seus lábios. 
-Qual era a pergunta? E me perdi em seus braços..





"Algumas perguntas merecem ficar sem resposta."

quarta-feira, novembro 02, 2011

Cotidiano...

-O que foi, Lu?
-Como assim "o que foi"?
-Você.. está olhando pra mim. Tem algo errado?
-Não estou olhando não.
-Esta sim.
-Agora estou.
-Está me olhando faz tempo.
-Na verdade estava pensando que...
-..Pensando e me olhando..
-Não estava te olhando, estava apenas pensando.. e agora estou te olhando.
-Então você admite?
-Admitir o que? 
-Como assim o que? Você estava me olhando.. eu vi.
-Já disse que não estava.
-Sim, você estava me olhando e pensando em mim.
-Mas, não estava pensando em você...
--Aháá. Ganhei  *-*
-Ganhou o que?
-Você admitiu que estava olhando pra mim. 
-Nao admiti nada...  Beto, o que você andou bebendo?
-Você disse que não estava pensando em mim e não que não estava me olhando. Logo, seu inconsciente não conseguiu se desviar da verdade. Você estava olhando pra mim. É tão dificil admitir isso?
-Mas, eu não estava...Ah, cansei.
-Sua desistencia denota sua fraqueza ante a verdade. Eu venci.
-Tá bom, Beto.Você venceu! Tenho que ir.
-Tão cedo, Lu? Fica mais um pouco.. Ah, me diz o que estava pensando..
-Deixa pra lá, nem me lembro mais.
-Então esquece isso e vem cá me dar um beijo... 
-Depois.. Primeiro vá escovar os dentes porque não consigo tirar os olhos dessa alface colada neles.
-Viuuu, você estava olhando pra mim..