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quinta-feira, dezembro 01, 2011

Sinceridade

-Bom dia querido! Eu disse. Ainda que não houvesse motivos reais para ser educada com ele, eu não conseguia evitar já que seus olhos tristes me encantavam. - O café está pronto, quente e forte do jeito que gosta. Posso servir?
- Hum... Você está aqui para isso não é... Fazer minhas vontades? -Ironizou forjando um sorriso. -Onde está o jornal?

Jornal...
Café...
Era apenas nisto que ele pensava ao acordar. Nada mais importava.
Ele... Ele.. Ele...e claro, ele.


Enquanto lia o jornal ele balbuciava palavras indefiníveis e segurava sem muita atenção a xícara.  Nas vezes que passei a noite em seu apartamento, ao acordar na manhã seguinte era a mesma rotina: Me levantar, tomar banho, preparar o café. Ele acordava, escovava os dentes, sentava-se à mesa, lia seu jornal enquanto tomava café.E eu torcia, rezava, implorava, em pensamento, para que ele derramasse aquela maldita xícara com café em si mesmo. Obviamente me sentia má por pensar isso. "Imagine só manchar aquela linda toalha branca."
Sentei-me à mesa no lugar à sua frente:
-Você merecia ser queimado vivo, sabia? Comentei, enquanto deslisava o dedo indicador na lamina de uma faca qualquer. 
-E alguém deveria cortar sua língua. E bem, esse alguém poderia ser eu. Afinal já estamos tão próximos.  Ele falou indiferente, sem sequer desviar os olhos daquele jornal idiota.
 -Seu cafajeste egoísta... Filho da puta! Você realmente acha que o mundo gira ao seu redor? 
-Não- baixou o jornal- O mundo não gira ao meu redor, infelizmente.
Em um instante olhou para meus lábios, subiu para meus olhos e completou:
 - Apenas você.
Ele desistiu do café, levantou e contornou a mesa em minha direção. Ao se aproximar retirou a faca de minhas mãos... Apertou forte meus ombros e abaixou sussurrando:
-Apenas você... MINHA pequena.


Enquanto minhas pernas tremiam, o coração pulsava mais intenso e o corpo queimava pela sua simples proximidade.  Não havia nada mais a ser dito. Era nossa imperfeita e completa relação, eu não me importava em ser apenas sua. Só queria lhe transmitir alguma paz. Foi nesse instante que entendi que não fazia as vontades dele.
Somente as minhas.
"É... Quem diria -pensei, enquanto sentia seus lábios em minha nuca- Afinal eu também era uma filha da puta egoísta."





" E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração"

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