No calor do fogo...

“Então o Lobo disse:
-Dispa-se e venha para cama comigo
-O que faço com meu vestido? - questionou Chapeuzinho.
-Jogue na lareira. Não precisará mais disso - respondeu o lobo.

E para cada peça de roupa que a garota retirava: corpete, anágua, meias, a garota refazia a mesma pergunta, e o lobo respondia:

"Jogue na lareira. Não precisará mais disso"

Arrependi-me inúmeras vezes por não seguir os conselhos dos mais velhos: “Não vá por aquele lado.” “Não fale com estranhos”. “Cuidado, há um lobo na floresta”; tive de aprender com as piores experiências por pura teimosia. Ultimamente sinto-me um tanto Chapeuzinho Vermelho só me falta à capa vermelha. Quando penso que na história original a chapeuzinho não tem um Final Feliz me pergunto: “um dia serei feliz ou apenas chegarei ao fim?”.

Em verdade não consigo seguir minha intuição ou minha certeza do que é certo. Insisto no desejo reprimido de ser livre quando não quero essa tal liberdade solitária.

Uma vez me disseram “não adianta te alertar, você gosta dos caras errados”. Sabe que a afirmação tem um lado de verdade e só entendi isso ontem.

É claro que o proíbo é mais atraente e o errado mais gostoso! Quem sou eu para questionar opções, já que o lobo mau me parece realmente tentador.  Não por ser mau ou cruel “o que chega a ser excitante no meu ponto de vista: mordidas nos lábios... hum ” rsss O fato é que o lobo sabe o que dizer, o que fazer, como atrair, sabe a hora de atacar. A ideia de ser uma presa não me agrada e trazendo a “historinha” para a realidade os homens-lobos são fascinantes. Só por imaginar um Homem, com postura de Homem, confiante, determinado, plenamente ciente de suas qualidades e do que pode oferecer...  Falta-me o ar. Esse tipinho conquistador realmente sabe como agradar com uma mulher, sabe conquistar como um verdadeiro príncipe encantado... e daí que é uma conquista fria e egoísta? E daí que vira jogo? E se o jogo virar e o príncipe virar lobo ou lobo tornar-se presa? Isso sim seria um conto de fadas com possibilidade de um final feliz. A menos que... E se a presa se revoltar jurando que nunca mais se renderia pelas instigantes palavras de um lobo solitário ou se jurasse não mais render-se à paixão revelada em beijos envolventes por pseudo-príncipes? E se a desilusão quebrar encanto?  Aí é hora de abandonar os livros de histórias na estante ou queima-los de uma vez por todas por contar mentiras bonitas como “se beijaram e foram felizes para sempre”. “Não existe felizes para sempre após um compromisso firmado é liçãozinha que aprendi” Será mesmo que a cinderela superou seus complexos? Será que a Bela esqueceu que seu marido tem uma besta selvagem e egoísta dentro de si? E a princesa Jasmine, como foi conviver com Aladdin,  ex- ladrãozinho pé de chinelo com ideias contraias as da realeza? Felizes para sempre Uhum. Não existe isso, não neste mundo. Quando entendi isso, cresci.  

E de todos os contos que conheci de longe Chapeuzinho é o melhor. Não tem nada de subtendido é real, palpável. E toda a menina vai se transformar em mulher da mesma forma: ao encontrar um lobo tão mau que vai hipnotiza-la, dominar seus pensamentos, que irá guia-la por sensações nunca antes revelados à mortais. E ela não significar nada à ele. Ser apenas mais uma presa.

"Aquela altura o Lobo já não via graça na brincadeira, deseja a pequena garota intensamente, queria comer logo sua sobremesa. Então a garota deitou-se ao lado do lobo, e ao sentir o toque do pelo roçar em seu corpo disse:-Como a senhora é peluda vovó – exclamou Chapeuzinho

-É para te esquentar, minha neta - respondeu o lobo.
-Que unhas grandes a senhora têm!
-São para me coçar, minha querida...
-Que dentes grandes a senhora tem!
-São para te comer..."